domingo, 22 de agosto de 2010

“Dando à luz a pensamentos ainda não nascidos”

Por Juliana Bello


Encontros, desencontros, embates, trocas... Nossos diálogos nos tornaram grávidos de anseios e de sonhos; grávidos de experiências compartilhadas e de “pensamentos ainda não nascidos”, que se caracterizam, na concepção de Oliver Sacks, como aqueles que correntemente as “pessoas ainda não refletiram, mas deveriam refletir”. Nesse sentido, ler Sacks, mais especificamente o livro “Vendo vozes” (2010), foi um exercício do “dom obstétrico” ressaltado pelo autor: dom de dar à luz aos pensamentos novos, descobrindo as perspectivas inesperadas da condição humana, as diferentes maneiras de viver e experimentar a humanidade.
Embora a surdez represente o tema central do livro, tal como as possibilidades de desenvolvimento com o auxílio de uma língua completamente visual, a leitura nos convida a pensar a pluralidade presente nas formas de aprender, de se relacionar, de se comunicar... de viver. Se a língua visual nos revela, como afirma Sacks, “a ilimitada flexibilidade e capacidade do sistema nervoso”, por que desconsideramos, por vezes, as linguagens, as lógicas, os saberes e as experiências de sujeitos que nos revelam outras perspectivas? O outro que nos desafia, com o seu comportamento e com a sua linguagem que nos são estranhos, não estaria nos ajudando a pensar que um modelo único de desenvolvimento humano não é capaz de abarcar a complexidade de ser/tornar-se humano? É diante do enigma do outro que damos à luz a pensamentos ainda não nascidos...



(Frida Kahlo: Nascimento, ou O Meu Nascimento, 1932)

Um comentário:

  1. me nasce colocar só uma probocaçao:
    pegando do final da sua colocaçao, voce diz que " É diante do enigma do outro que damos à luz a pensamentos ainda não nascidos...". temo que discordo, pois nao é diante o enigma, mas diate a comparaçao da nossa forma de como estilizarmos ao outro com a forma como esse outro se apresenta diante nós. apartir desse confronto nascem novas ideias e damos à luz uma nova visao do nosso mundo. no livro vendo vozes em particular o autor mostra no inicio o que ele achava dos cegos pois se considerava ignorante do tema, mas tinha já uma ideia preliminar deles, ao avançar pelo texto ele apresenta o seu choque com as experiencias no cotidiano com os cegos.
    Será que nós educadores poderiamos ver as vozes dos nossos estudantes no cotidiano, deixando de aglutina-los com nossas ideias e a nossa forma de ver o mundo?
    Será que estamos dando oportunidade a nossos estudantes ver as nossas vozes para que dem a luz novas ideias para criticar seu proprio mundo, para gerar uma transformaçao nele proprio.

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